19 de fevereiro de 2009

Think Tank: Portugal Descomprometido

Imagem: Daqui


Numa altura destas com tantas preocupações a invadir a cabeça dos portugueses e dos políticos e agentes económicos faz sentido questionarmos sobre o destino da organização “Compromisso Portugal”.

Os gestores que nos últimos anos se têm reunido para contribuir com os seus conhecimentos e casos de sucesso para que o nosso país pudesse progredir e se tornar mais competitivo criticaram medidas, discutiram visões e quiseram impor modelos ao poder político como se fossem os supra sumos da economia portuguesa, estão descomprometidos com o Real Portugal .

Mas hoje, que o país precisa deles, estão no anonimato da crise. Se na altura se questionava a razão por detrás da razão da existência deste grupo de estrategas, e houve quem ofendido evocasse o direito à associação e às visões diferentes, hoje percebem-se bem os motivos.

É fácil desenhar cenários e argumentar com discursos eloquentes e cerimónias faustosas. Mas é difícil dar o nosso exemplo quando o modelo falha e os resultados de tanta sabedoria são catastróficos. Ainda assim gostaria de saber: O que é feito do Compromisso Portugal?

16 de fevereiro de 2009

Polítólogos de esplanada

Foto: Daqui

Hugo Chavez viu aprovada, em referendo, com 54% dos votos a sua proposta de perpetuação no poder da Venezuela, após ser validada uma lei que não estipula limites nos mandatos políticos. Há quem diga que se trata de um pequeno passo para a instituição de uma ditadura, o que aliás já é considerado por muitos como uma característica do exercício do poder de Chavez. O que penso sobre isto é simples: a fiscalização pela ordem internacional deve funcionar e estar atenta às evoluções desta situação; deve-se respeitar o valor constitucional da Venezuela e agir em conformidade se o desvio se confirmar.

Há quem, implicitamente, sugira a associação da imagem de Chavez a Sócrates, por via de um entendimento institucional que o governo português fomenta com a Venezuela, como a Espanha e a França, tal qual o Brasil e a Inglaterra, o fazem com aquele país sul americano. Já uma vez aqui o referi: os estados não têm inimigos, têm interesses, e os interesses comerciais de Portugal são tão válidos e importantes com a Venezuela como o são com outro país: como Cuba, no exemplo das relações intergovernamentais!

E Sócrates respeita esse compromisso com sentido de estado, que representa, para além das trocas comerciais, o valor patriótico de centenas de milhar de portugueses residentes nesse país. Fá-lo porque a ordem comercial internacional assim o permite. Seria criticável e condenável se Portugal mantivesse relações comerciais com a Venezuela ignorando um embargo internacional. Mas se assim não é, e a verdade é que não existe tal embargo, porque há-de o nosso governo aniquilar uma relação comercial importante? Para deixar esses encargos a outros estados mais evoluídos e menos mesquinhos? Parece-me óbvio que existe por aqui uma má conduta de opinião, de querer fazer de Sócrates um bocado de tudo e mais alguma coisa. E isso é imerecido. É injusto porque se existe área de governação onde este governo tem agido com correcção e total respeito pelos superiores interesses do país é a área externa: aumentamos a exportação e diminuímos a importação, internacionalizamos empresas e negócios, valorizamos produtos e acentuamos a nossa importância nos novos modelos de governação. E nesta balança vale também o peso da relação comercial com a Venezuela.

Sendo criticável o caminho que Hugo Chavez está a traçar rumo a um país autocrático, para não adiantar já ditatorial, não é honesto nem criticar Sócrates nesta matéria, nem passar a imagem de um governante condescendente com uma situação antidemocrática.



15 de fevereiro de 2009

PSD Hoje
















Pensará o leitor deste mínimo blogue que tenho uma coisa qualquer contra o PSD. Engano. Respeito a sua história e o seu contributo quer na oposição quer no governo, e por isso mesmo lhe reconheço a importância de se encontrar num estado de estabilidade que credibiliza o sistema democrático português. Mas a verdade é que o PSD está longe dessa estabilidade, por culpa própria e por insatisfação interna.

A prova do que digo é a constante critica de vários sectores internos às sucessivas lideranças – já lá vão quatro! – desde que Durão Barroso rumou para Bruxelas. Esta critica só é aceitável e praticada por não haver no seio do PSD quem congregue a sensibilidade militante da sua estrutura, quem fale ao país com a credível sapiência de uma alternativa de governo. Porque o PSD é um partido de governo e os seus militantes são actores políticos que desejam esse palco, em vez da figuração.

O mal não está só em Ferreira Leite, em Marques Mendes ou em Menezes, o que está errado no PSD é a ausência de um rumo onde se reencontre consigo e se defina numa base de ideias e de apoios eleitorais capazes de serenar a estrutura militante e dirigente. E quando um partido não sabe de si logo surgem mais do que um putativo líder, porque a todos cabe a legitima ambição de pensar fazer melhor do que o mal em que se encontra o partido. E isto não é salvação, é desorientação.

Tenho para mim que MFL não é líder para o PSD, já o disse várias vezes e expliquei porquê. Mas não é só a líder que está no sítio errado à hora errada: também os seus directos seguidores de direcção são um desastroso erro de casting. Ao longo destes meses ouvimos o PSD pôr-se em bicos de pés a bradar um plano de salvação nacional que diz ter apresentado. Esta é uma máscara que procura encobrir os erros constantes e a incompetência política dos vices de MFL. Primeiro foi Alexandre Relvas que assumiu a liderança do Instituto Sá Carneiro para dar ao partido o rumo e as ideias que alcançariam a meta do governo, o que se veio a comprovar insuficiente e sem efeitos na opinião pública; depois nomearam o ex-futuro salvador do PSD António Borges como responsável do gabinete de Estudos com a intenção de validar uma proposta credível de alternativa aos projectos do PS, e para além de umas trapalhadas e uns desacertos confirmou-se a sua incapacidade; prova disso é a terceira escolha: Aguiar-Branco, vice do norte e responsável pela dinamização do novo Fórum Portugal de Verdade que debaterá temas como a pobreza, PME’s, saúde, educação, desigualdades e justiça com o objectivo do PSD formar um plano a apresentar ao país para combater a crise.

E em todas estas iniciativas se percebe o falhanço de cada uma das outras e a inexistência de um plano de combate à crise que o PSD teima em afirmar já ter apresentado. Percebendo tudo isto, conhecendo o partido como eu não conheço e tendo informações privilegiadas que não possuo, os seus opositores Menezes, Passos Coelho, Marcelo e Ângelo Correia fazem transparecer a imagem real que o país tem do PSD actual: o rei vai nu. Não tem ideias e logo não pode mobilizar o país. Não sabe se é isto que quer e logo não mobiliza os seus militantes. O maior erro de MFL foi ter assumido esta missão sem julgar importante ter ideias para o país. Quem quer ser PM tem de fazer nascer na sua vontade o rumo e as orientações, para que os outros se façam seguidores e nunca o contrário, como sucedeu.

13 de fevereiro de 2009

Ponto de Relançamento


O PS elege entre hoje e manhã o Secretário-Geral em eleições directas e os respectivos delegados ao congresso nacional a realizar em Espinho no final de Fevereiro. O único candidato a SG é José Sócrates, e isso parece ser motivo de muita especulação sobre os efeitos da única candidatura e das orientações da sua moção de estratégia global.

Não me ocorre nenhuma preocupação: Sócrates é o único candidato porque a sua liderança é inquestionável – e este inquestionável não quer dizer que seja acrítica – e não existem espaço nem protagonistas para uma alternativa credível e séria ao actual SG e primeiro-ministro. Aliás esta é uma tendência natural nos partidos que governam. Aqui e na Europa.

Nem tão pouco as suas ideias descritas na moção são razão de satisfação de quem quer que seja nos espaços mais à esquerda no PS ou fora dele. A regionalização, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e outras propostas são naturais no seio do PS: a regionalização, como se sabe, é uma bandeira do PS desde há muito, e foi por iniciativa de Guterres que se realizou um referendo e esta matéria foi razão de um debate nacional; o casamento entre pessoas do mesmo sexo, ou a interrupção voluntária da gravidez e outras políticas do género são também parte do legado do PS nas últimas décadas. A diferença é que numa perspectiva de responsabilidade governativa não se pode esperar do PS a ligeireza do BE na gestão mediática das propostas “fracturantes”.

Agora, este processo electivo e de debate no PS é o ponto de partida para uma campanha eleitoral intensa até Novembro: Europeias, Legislativas e Autárquicas marcam este ano, com eleições mais ou menos entusiásticas. E se num futuro próximo não acontecer um extraordinário congresso do PSD então será a partir daqui que se reúnem as condições de início dos processos eleitorais. E o congresso do PS para além de estatutário e de referência de ideias entre os socialistas será o discurso de Sócrates ao país e aos portugueses.

11 de fevereiro de 2009

Ponto sem retorno

Numa só tarde: o PSD critica o governo por ausência de plano de combate à crise, e o próprio PSD não tem plano, nem o considera urgente porque anunciou um conjunto de conferências nos próximos dois meses para constituir esse plano, tal como o fez no ano passado com o Instituto Sá Carneiro e sem consequências; o PSD acusa o governo de ter nacionalizado o BPN quando antes o defendeu e considerou uma medida importante para garantir o funcionamento do sistema financeiro; O PSD exige a revogação do Pagamento Especial por Conta, quando a sua autora foi Manuela Ferreira Leite, Ministra das Finanças de Barroso; O PSD levanta a suspeita de que Sócrates não tem credibilidade para assegurar o bom funcionamento do SIS, quando sabe que nessas matérias existe a fiscalização da AR, incluindo do PSD. E perante tudo isto é estranho que o PM se indigne? E depois estranham as sondagens?

Para além do ponto de não retorno de que Marcelo fala no PSD existe ainda o ponto sem retorno da paciência. Para mim o PSD é muito mais do que isto; e isto não serve ao PSD nem a Portugal. Perdemos todos!

8 de fevereiro de 2009

Bloco de Equívocos

O que penso do Bloco de Esquerda não é nada simpático. Ideologicamente é uma confusão de radicalismos revolucionários ultrapassados. Na sua acção é uma contradição permanente entre o que cada um é e um moralismo ético disparatado. O que o BE tem feito nestes anos de existência tem sido evocar as ideias fracturantes como instrumentos de mediatismo e de mobilização de um nicho eleitoral descontente com o status quo. E tem sido bem sucedido, sobretudo num eleitorado urbano e pró-intelectual. Mas o que o Bloco diz dos outros, muitas das vezes é o que pratica na sua acção mais sombria: são um conjunto de equívocos práticos; uma empolada realidade que não representa, felizmente, o país em que vivemos.

Quando o BE acusa a ética dos partidos da área de governo, levanta suspeitas e insinuações sobre as intenções dos outros líderes políticos e se afirma defensor de minorias, fá-lo em contradição com a sua acção. Ou seja, o BE não tem moral para tratar assim os outros, e não é melhor que os outros, nem mais sério e honesto. E o ar empertigado de Loução e Fazenda, ou o ar professoral e acrítico de Rosas, não são mais que uma máscara que esconde o desejo de poder: e aqui a diferença é abismal, enquanto se afirmam pelo desinteresse relativo ao poder cultivam-no e perseguem-no. Porquanto evocam a moral política dos homens sérios e impolutos, como seres superiores, que o não são.

Em entrevista à Sábado desta semana José Sá Fernandes acusa esta estrutura de o usar para conquistar poder. E de se imiscuir, deslealmente, numa acção política comprometida por uma eleição e por um acordo com António Costa. E o que Sá Fernandes diz é que a forma como foi tratado é criticável e motivo de reflexão. E o que muitos militantes e apoiantes do BE já perceberam neste caso é que a actuação de Fazenda não foi adequada aos princípios e aos discursos públicos. Porque o que o BE quis foi ganhar espaço eleitoral, controlar o poder de um vereador que convidou e com isso encostar Costa à parede. E isso é moral e eticamente reprovável. Sobretudo para quem evoca as fraquezas morais dos outros.

Quando Loução surge com o seu timbre de voz colocado e radiofónico, com paragem estratégica antes de proferir a palavra certa, a questionar o funcionamento da Assembleia, as faltas dos deputados, tudo parece fazer sentido, mas quando 2 dias depois é a sua vez de faltar a uma reunião de comissão em conjunto com outros deputados, a sua defesa em forma de vitima ganha com aquela eloquência reconhecida o valor inquestionável de quem fala verdade e não pode ser confundido. E quando algum autarca é constituído arguido num processo a sua indignação surge como uma espada de justiça e de moralidade. Mas quando essa questão se coloca com a presidente da câmara de Salvaterra de Magos, sua única autarquia, a indignação de quem é perseguido injustamente toma o lugar dos argumentos morais e acusatórios relativamente aos outros.

O BE pode querer dizer muita coisa. Pode até querer ser poder. Ainda pode mais do que aquilo que é. Mas não pode fazer dos outros pessoas e partidos duvidosos e andar por aí a passear arrogância e a praticar o que acusa os outros de fazerem.

4 de fevereiro de 2009

As estrelas Cintilantes


O CDS-PP apoia a candidatura de Santana Lopes à Câmara Municipal de Lisboa. O PS diz que estava “escrito nas estrelas”. O antigo líder centrista Ribeiro e Castro afirma que não é motivo de orgulho”. E Santana Lopes sente-se “muito lisonjeado”. Já Paulo Portas, no seu melhor estilo, atribui essa decisão à “escolha dos militantes”. Ou seja, em poucas palavras está tudo dito. Mas será que está tudo esclarecido?

O que se passa com o CDS é que é um partido sem rumo. Descaracterizado pela ganância do poder que a todo o custo o seu líder quer ostentar. Paulo Portas não cede à coerência quaisquer benefícios desde que isso lhe garanta um discurso de vitória. Resiste, não pelo espaço político que o CDS poderia ocupar, nem pelas ideias ou convicções ideológicas, mas sim pelo desespero e pela desorientação de um partido que é órfão de uma doutrina e refém de um líder com um ego maior que o de todo o CDS junto.

O CDS de centro-direita, de Adriano Moreira, de Freitas do Amaral, de Lucas Pires, de Ribeiro e Castro, e de tantos outros homens e mulheres com vincada orientação ideológica e defensores de um projecto para Portugal morreu com o PP de Manuel Monteiro e Paulo Portas. O populismo saloio, as feiras e os mercados, os discursos com chavões e o ego de Paulo Portas enlearam o CDS numa teia de indecisões e de fracassos. O CDS de hoje mais parece uma contabilidade organizada: Contam-se todos palcos, contabilizam-se todas as oportunidades de mais um deputado, somam-se as coligações com o PSD para mais uma justificação da existência de Paulo Portas, o político.

E associar Paulo Portas a Santana Lopes não é motivo de orgulho para ninguém, e nem precisa de estar escrito nas estrelas, basta a memória dos lisboetas e dos portugueses para se entender o significado desastroso da sua cumplicidade governativa. E imagino Ferreira Leite em tudo isto, numa só candidatura ter que elogiar e defender as cintilantes estrelas do populismo e da demagogia... enfim, sacrificio de líder.

3 de fevereiro de 2009

Os sinais da ingovernabilidade



Em entrevista a Mário Crespo, Pedro Passos Coelho diz-se disponível e preparado para ser primeiro-ministro, e ainda afirmou o óbvio: Manuela Ferreira Leite já perdeu demasiadas oportunidades para fazer oposição. Para mim, o PSD perdeu quando optou por uma liderança apagada e de continuidade em detrimento de um líder com a pujança e o significado de modernidade como Passos Coelho.


Não considero ser preciso dizer mais nada. Está tudo dito pelo próprio Pedro Passos Coelho. Mas estou curioso para saber como Pacheco Pereira e António Borges, e ainda Rui Rio e Marcelo R. Sousa, vão justificar esta posição do militante e mais que evidente candidato a Presidente do PSD sobre o... PSD!? Ou melhor, como vão defender MFL de uma análise que parece colher a concordância da maior parte dos comentadores e analistas. Com tanta habilidade intelectual para construir verdades absolutas a coisa promete...


Considerando as palavras de PPC, o que querem realmente dizer e quais as motivações e consequências, é fácil perceber que o PSD está longe de formar governo, ou sequer, de partir para a campanha das legislativas com um projecto credível e sustentado. A cada dia que passa percebe-se a dificuldade do maior partido da oposição em fazer política alternativa. É um engano julgar que as energias do PSD estão concentradas na resolução dos problemas nacionais. Pelo contrário, os problemas internos são mais que evidentes e mobilizadores dessas energias. E não sou quem o diz, é Pedro Passos Coelho.


Os bons, os maus e os vilões

O ambiente de crise económica que vivemos está a ser aproveitado por alguns empresários, não só para despedir funcionários, mas também para lhes retirar regalias. Esta atitude, que é condenável, reflecte-se muito nas pequenas e médias empresas, onde a formação empresarial é em alguns casos diminuta e o poder de reivindicação dos funcionários é reduzido.

Para entendermos o que está em causa convém perceber que estamos a falar de maus empresários, de péssimos gestores que mobilizam os funcionários com argumentos psicológicos falsos, que lhes retiram dignidade e estimulo para se empenharem na real salvação das empresas. Estamos a falar de uma mentalidade retrógrada e ilícita, que tem de ser combatida. Exterminada e acusada de enriquecimento ilícito.

E nesta matéria deveria o governo reforçar as inspecções da Autoridade das Condições do Trabalho, como medida extraordinária e de excepção, para em primeiro garantir a protecção dos direitos dos trabalhadores e em segundo eliminar do mercado económico-social estes empresários oportunistas.

Recentemente o governo anunciou um reforço da intervenção dos centros de emprego, através dos gabinetes de inserção profissional. Esta medida, que é necessária e adequada aos tempos que vivemos, deveria também ser seguida de uma outra de protecção do trabalho… em local de trabalho. Não se trata de uma questão ideológica, ou de insensibilidade, trata-se de uma defesa da verdade, dos direitos e da dignidade de uma sociedade justa.

1 de fevereiro de 2009

Divorciado da realidade

Foto: www.rtp.pt


Já aqui elogiei Cavaco Silva no 3º aniversário da sua eleição. Resumindo enalteci a sua figura de equilíbrios e de referência. E o PR é uma pessoa a quem reconheço virtudes e não o escondo pelas diferenças ideológicas. Não seria justo. E da mesma forma já referi algumas situações em que não esteve bem e confundiu as coisas.

Recentemente o PR relacionou o agravamento das condições socio-económicas dos portugueses com a nova lei do divórcio. Trata-se de uma falácia. Uma coisa não tem a ver com outra. E nem poderia ter, porque a lei de que Cavaco fala entrou em vigor a 1 de Dezembro de 2008 – há dois meses, portanto – e desconheço que os divórcios entretanto formalizados tenham tido influência na conjuntura económico-social que vivemos. Mas cavaco vai mais longe e realça o seu aviso na altura do veto à referida lei. Pois bem, o que o PR está a querer dizer é que o descalabro das nossas condições chegou e ele, qual profeta, nos avisou e foi ignorado. É outra falácia. Com este discurso Cavaco Silva está a fomentar a desconfiança e a criar um outro elemento de preocupação nas pessoas relativamente ao governo. E isso não só é injusto como põe em causa a sua figura de equilíbrios e de referência.

Mas por detrás desta intervenção – e agora percebo que outras se lhe seguirão – está uma vontade de vingar o processo legislativo do Estatuto do Açores. E se assim é então Cavaco perde o equilíbrio. A sua função não é vingar. Nem ganhar ou perder. O cargo que exerce está definido e merece ser protegido, mas não à custa de desforras. Não tem esse direito, nem tão pouco lhe fica bem agudizar os problemas sérios que o governo tem por resolver com alarmes falaciosos. Começa mal o quarto ano de mandato de cavaco Silva.

31 de janeiro de 2009

Boa noite, ela é Manuela Moura Guedes



Foto: TVI

Na edição de ontem do Jornal Nacional Sexta-Feira da TVI, Manuela Moura Guedes deu a entender que conhecia o conteúdo da carta rogatória inglesa. Quem a viu e ouviu interpelar Vasco Pulido Valente percebeu que a sua firmeza só pode ser a de quem leu e sabe quais os nomes e os indícios que os ingleses referem. Para mim, MMG não leu coisa nenhuma e nem sabe do que fala. Basta-lhe o tom acusatório e o ar incrédulo das suas opiniões – que contrariam o código deontológico dos jornalistas – para manchar o rigor da informação.

Mas se MMG sabe, porque leu a carta rogatória, deve publicá-la na íntegra. Tem a obrigação de sustentar as suas acusações – que não lhe cabem como jornalista – com factos irrefutáveis e cujo conhecimento deu a entender ter.

E tão grave como tudo isto é a impunidade da sua acção profissional que semana após semana conduz à especulação e a uma opinião que não lhe é permitida. E arrastados pelas suas opiniões vão os nomes de organizações e de pessoas, sem que as armas de defesa sejam as mesmas. Manuela Moura Guedes presta um mau serviço à classe e desrespeita a inteligência dos portugueses, porque julga que a sua é sempre superior e acrítica. E esta é uma atitude que demonstra as suas fragilidades profissionais.

29 de janeiro de 2009

Numa vida há muitas vidas


Há uns anos, um amigo elogiou Pacheco Pereira como um dos maiores e melhores pensadores portugueses da actualidade. Não o contradisse. Nem tão pouco deixei de levar a sério o elogio. Pacheco Pereira elabora raciocínios e teorias interessantes. É culto e cáustico nas suas críticas. Nem sempre é conveniente nas observações e isso é uma virtude. Na verdade o meu amigo poderia ter razão. Ou não.

O Pacheco Pereira da altura dedicava-se à elaboração da biografia não autorizada de Álvaro Cunhal. Fê-lo sem a concordância do PCP. Foi polémico e retratou, à sua maneira e com os seus elementos de interpretação, a vida política do histórico dirigente comunista. E o documento editado em livro é um contributo valioso e pertinente. E o Pacheco Pereira dessa época assumia-se isento e critico perante o que considerava estar mal. Inclusive no seu próprio partido. Essa isenção ter-lhe-á custado o lugar de eurodeputado, mas não se resignou e manteve a luta pela sua verdade e pela ética que deve conduzir o exercício de cargos políticos. Por tudo isto nunca deixei de ouvir ou ler o que Pacheco Pereira tem para dizer ou escrever. E faço-o sempre com o mais elevado respeito intelectual. Embora as diferenças ideológicas.

Mas o Pacheco Pereira de agora, o que apoiou a candidatura de Ferreira Leite e vibrou com a sua eleição, é diferente. Manifesta parcialidade na análise. Pende para um dos lados como se passasse a crer em verdades absolutas, tal como nos tempos da esquerda radical. Não vê mais nada senão conspirações e ataques à figura de Manuela Ferreira Leite. E elegeu o PM como a causa do combate à incompetência e à mentira. E sem recato ataca Sócrates por tudo e por nada. Para Pacheco Pereira o PM erra logo pela manhã quando se levanta da cama. Por simpatia ainda lhe dá o benefício de acordar.

Ora, Pacheco Pereira perde a influência do seu discurso e da sua opinião quando acolhe as gafes de MFL e as justifica com os desacertos dos outros. Descai em credibilidade intelectual quando abdica de uma reflexão isenta e imparcial. Torna-se dispensável quando coloca a sua honestidade intelectual abaixo de interesses partidários.
Um destes dias vou ligar ao meu amigo para tentar perceber se ainda considera Pacheco Pereira da mesma maneira. Mas tenho tudo isto para lhe dizer. Na verdade, e disto PP sabe: "Quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré".

Verdade e Decência



Foto: www.sic.pt

O que nos resta para a verdade e para a decência? Jornais e teóricos comentadores expandem a ideia de um PM comprometido e suspeito de uma situação ilícita, enquanto as entidades responsáveis, credíveis e constitucionalmente legitimadas para proceder a investigações desmentem, vezes sem conta, que a investigação do processo FREEPORT não tem quaisquer suspeitos ou arguidos; que não existe qualquer relevância jurídica na carta rogatória das autoridades inglesas; que tudo o que é falado e escrito sobre este caso não passa de “mera especulação política”; que não existem fundamentos para se usar o nome de um cidadão – seja ele quem for – e ligá-lo ao caso em questão.

Pergunto, posto tudo isto, o que é possível pensar da verdade e da decência? Como é possível manter uma suspeita infundada e especulativa sobre um cidadão, que ainda para mais é primeiro-ministro? Como se pode pôr termo a esta vergonhosa campanha difamatória? Quem põe fim a esta vil ameaça da liberdade de um cidadão?

Não fujo à questão central: as investigações deverão encontrar responsáveis e acusá-los independentemente que quem sejam ou de quais sejam as suas funções. E o país deverá lidar com isso com naturalidade democrática. Mas essa é a função da justiça e até lá aguardamos com respeito pelas pessoas e pelos seus direitos. Agora, não poderemos afirmar confiar na justiça e depois ignora-se a importância dos seus esclarecimentos e comunicados. Isto é mais que vergonhoso: é eticamente reprovável e condenável.

27 de janeiro de 2009

Crise Social



Num só dia várias multinacionais anunciaram o despedimento de 70.000 trabalhadores. Num só dia, em todo o mundo! E nestes meses que passaram, entre bancos, fábricas de automóveis e empresas dos sectores electrónico e informático outras centenas de milhares de trabalhadores perderam o seu posto de trabalho, ficaram sem a sua estabilidade sócio-financeira assegurada e entraram no mundo inseguro do desemprego.

Temos ouvido falar da crise financeira e económica, dos relatos de falências e da queda de acções como se de um baralho de cartas se tratassem. E têm-nos dito que é previsível surgir uma crise social grave e histórica. Pois bem, aí está ela: tomando posse dos cidadãos anónimos que trabalharam com esforço e dedicação pela salvaguarda dos seus empregos e pela viabilidade das suas empresas. E esta crise social tende a agravar, porque o que surgiu nestes últimos meses nada mais é do que o principio, um género de anúncio macabro de tempos bem difíceis de aguentar.

E de uma vez por todas devemos reconhecer e assumir a globalização das causas e das consequências, e deveremos agir também localmente, sem desvios e sem demagogia. Julgo que nestas matérias, e sendo desconhecida a magnitude deste terramoto mundial, nenhum de nós tem condições de garantir uma solução única e capaz. E por isso devemos entender e compreender as motivações das diferentes propostas.

25 de janeiro de 2009

FREEPORT: quando se tem algo a dizer

Foto: www.rtp.pt


Admito a importância do esclarecimento sobre tudo o que se passou no caso FREEPORT. Reconheço a importância e as consequências a tirar no surgimento do nome do actual PM neste caso. Sei do estimulo que gera nas conversas de café e nas redacções.

O assunto não é de somenos importância, pelo contrário. Mas abordarei as diferentes questões relacionadas quando entender que se respeitaram os principios básicos da justiça de apuramento da verdade, de acusação fundamentada e de protecção da honra e integridade de quem está sobre investigação, ou não.

Não julguem que escondo o que seja na minha - para já - não opinião: antes protejo a fundamentação e o respeito pelo que escrevo e por quem me lê.

A credível razão das Cimeiras Ibéricas



A 24.ª cimeira luso-espanhola, em Zamora, concentrou na agenda de discussão o TGV e a energia. Esta Cimeira Ibérica, como as vinte e três que a antecederam reveste-se da maior importância. Não só pelos temas em discussão, mas por um principio de estabilidade e de bom relacionamento.

Aos estados vizinhos serve uma relação de amizade e de cooperação que vise promover um desenvolvimento comum, apesar das características e da independência de cada país. Mas esta relação deve também servir para fomentar o progresso e estabelecer objectivos de equilíbrio social e económico. Ou seja, para além dos projectos de investimento público comum, além das medidas partilhadas na área da justiça e da segurança, da gestão e protecção dos recursos naturais, compete aos dois estados promover uma qualidade de vida harmoniosa e equiparada. E a qualidade de vida deve ter por base critérios semelhantes em Portugal e Espanha ao nível das carreiras, dos salários, das regalias e do poder de compra. Devem os países fomentar e proteger as suas empresas com igualdade de oportunidades e incentivar o consumo dos seus produtos no mercado ibérico.

É importante que políticas comuns de transporte, como é o caso do TGV, de gestão da água e das barragens, e da diminuição da dependência energética sejam tratadas e acordadas pelos governos. Estas como outras serão princípios elementares de uma cooperação progressista e vencedora. Aligeirar os acordos entre estados vizinhos, torná-los vítimas do combate político e da demagogia é revelar não apenas irresponsabilidade mas sobretudo incompetência. E nesta matéria, a líder do PSD, demonstra à saciedade a sua incapacidade de governar com sentido de estado e com credibilidade moral.