8 de fevereiro de 2009

Bloco de Equívocos

O que penso do Bloco de Esquerda não é nada simpático. Ideologicamente é uma confusão de radicalismos revolucionários ultrapassados. Na sua acção é uma contradição permanente entre o que cada um é e um moralismo ético disparatado. O que o BE tem feito nestes anos de existência tem sido evocar as ideias fracturantes como instrumentos de mediatismo e de mobilização de um nicho eleitoral descontente com o status quo. E tem sido bem sucedido, sobretudo num eleitorado urbano e pró-intelectual. Mas o que o Bloco diz dos outros, muitas das vezes é o que pratica na sua acção mais sombria: são um conjunto de equívocos práticos; uma empolada realidade que não representa, felizmente, o país em que vivemos.

Quando o BE acusa a ética dos partidos da área de governo, levanta suspeitas e insinuações sobre as intenções dos outros líderes políticos e se afirma defensor de minorias, fá-lo em contradição com a sua acção. Ou seja, o BE não tem moral para tratar assim os outros, e não é melhor que os outros, nem mais sério e honesto. E o ar empertigado de Loução e Fazenda, ou o ar professoral e acrítico de Rosas, não são mais que uma máscara que esconde o desejo de poder: e aqui a diferença é abismal, enquanto se afirmam pelo desinteresse relativo ao poder cultivam-no e perseguem-no. Porquanto evocam a moral política dos homens sérios e impolutos, como seres superiores, que o não são.

Em entrevista à Sábado desta semana José Sá Fernandes acusa esta estrutura de o usar para conquistar poder. E de se imiscuir, deslealmente, numa acção política comprometida por uma eleição e por um acordo com António Costa. E o que Sá Fernandes diz é que a forma como foi tratado é criticável e motivo de reflexão. E o que muitos militantes e apoiantes do BE já perceberam neste caso é que a actuação de Fazenda não foi adequada aos princípios e aos discursos públicos. Porque o que o BE quis foi ganhar espaço eleitoral, controlar o poder de um vereador que convidou e com isso encostar Costa à parede. E isso é moral e eticamente reprovável. Sobretudo para quem evoca as fraquezas morais dos outros.

Quando Loução surge com o seu timbre de voz colocado e radiofónico, com paragem estratégica antes de proferir a palavra certa, a questionar o funcionamento da Assembleia, as faltas dos deputados, tudo parece fazer sentido, mas quando 2 dias depois é a sua vez de faltar a uma reunião de comissão em conjunto com outros deputados, a sua defesa em forma de vitima ganha com aquela eloquência reconhecida o valor inquestionável de quem fala verdade e não pode ser confundido. E quando algum autarca é constituído arguido num processo a sua indignação surge como uma espada de justiça e de moralidade. Mas quando essa questão se coloca com a presidente da câmara de Salvaterra de Magos, sua única autarquia, a indignação de quem é perseguido injustamente toma o lugar dos argumentos morais e acusatórios relativamente aos outros.

O BE pode querer dizer muita coisa. Pode até querer ser poder. Ainda pode mais do que aquilo que é. Mas não pode fazer dos outros pessoas e partidos duvidosos e andar por aí a passear arrogância e a praticar o que acusa os outros de fazerem.

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