29 de janeiro de 2009

Numa vida há muitas vidas


Há uns anos, um amigo elogiou Pacheco Pereira como um dos maiores e melhores pensadores portugueses da actualidade. Não o contradisse. Nem tão pouco deixei de levar a sério o elogio. Pacheco Pereira elabora raciocínios e teorias interessantes. É culto e cáustico nas suas críticas. Nem sempre é conveniente nas observações e isso é uma virtude. Na verdade o meu amigo poderia ter razão. Ou não.

O Pacheco Pereira da altura dedicava-se à elaboração da biografia não autorizada de Álvaro Cunhal. Fê-lo sem a concordância do PCP. Foi polémico e retratou, à sua maneira e com os seus elementos de interpretação, a vida política do histórico dirigente comunista. E o documento editado em livro é um contributo valioso e pertinente. E o Pacheco Pereira dessa época assumia-se isento e critico perante o que considerava estar mal. Inclusive no seu próprio partido. Essa isenção ter-lhe-á custado o lugar de eurodeputado, mas não se resignou e manteve a luta pela sua verdade e pela ética que deve conduzir o exercício de cargos políticos. Por tudo isto nunca deixei de ouvir ou ler o que Pacheco Pereira tem para dizer ou escrever. E faço-o sempre com o mais elevado respeito intelectual. Embora as diferenças ideológicas.

Mas o Pacheco Pereira de agora, o que apoiou a candidatura de Ferreira Leite e vibrou com a sua eleição, é diferente. Manifesta parcialidade na análise. Pende para um dos lados como se passasse a crer em verdades absolutas, tal como nos tempos da esquerda radical. Não vê mais nada senão conspirações e ataques à figura de Manuela Ferreira Leite. E elegeu o PM como a causa do combate à incompetência e à mentira. E sem recato ataca Sócrates por tudo e por nada. Para Pacheco Pereira o PM erra logo pela manhã quando se levanta da cama. Por simpatia ainda lhe dá o benefício de acordar.

Ora, Pacheco Pereira perde a influência do seu discurso e da sua opinião quando acolhe as gafes de MFL e as justifica com os desacertos dos outros. Descai em credibilidade intelectual quando abdica de uma reflexão isenta e imparcial. Torna-se dispensável quando coloca a sua honestidade intelectual abaixo de interesses partidários.
Um destes dias vou ligar ao meu amigo para tentar perceber se ainda considera Pacheco Pereira da mesma maneira. Mas tenho tudo isto para lhe dizer. Na verdade, e disto PP sabe: "Quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré".

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