6 de agosto de 2009

Manuela Ferreira Leite.




É verdade que o PS e o governo têm tido, para além de alguns erros de casting e de acção, a infelicidade de um karma que lhe tem travado o resurgimento da sua capacidade de cativar o eleitorado. Acredito que ainda o fará a tempo de vencer as eleições legislativas com uma margem segura e que proteja os interesses de governação do país. Mas é evidente que por via dos acontecimentos que têm ocupado a atenções no PS o PSD tenha sido beneficiado.


No entanto o PSD tem a marca de um partido desligado, demagógico e incapaz de garantir uma alternativa credível. A sua líder, para além das gaffes, é um poço fundo de ausências: ausência de ideias, ausência de responsabilidade, ausência de estratégia, ausência de moral política. E o mais divertido é assistir nos últimos dois meses como uma comunicação social tendenciosa e um punhado de comentadores se esforçaram para disfarçar o óbvio: Manuela Ferreira Leite não está à altura de liderar o PSD, e ainda mais de governar Portugal.


Sim, Portugal! Porque Portugal precisa de uma governação moderna e reformista e não de uma liderança que acerta contas com o passado, porque o país necessita de um governo com estratégia e não de uma Primeiro-Ministra que se contradiga entre a manhã e a hora depois do almoço.


Ferreira Leite reforça a sua contradição e a sua falta de responsabilidade política ao atacar o PS nas ideias e defender não apresentar as suas próprias - porque não as tem; MFL arroga-se diferente na comunicação e na imagem, mas as suas fotos recentes revelam um tratamento visual profissional, bem como uma campanha de outdoors nunca antes realizada em Portugal. Se o que o PSD faz não é imagem e propaganda então não existe tal coisa neste país.


Mas graves são as moralidades que MFL evoca. Neste campo, que é sério e pode definir um lider, MFL tem atirado em todos os sentidos, aleatoriamente, sem ter o cuidado de praticar a própria os princípios e os valores que diz defender. Mais grave que a constituição das listas do PSD são as posições públicas no que respeita aos interesses do país. Rasga medidas, rompe projectos, anula compromissos, etc. Tudo em nome de uma ausência de alternativa credível e em beneficio da conquista do poder!


Uma coisa dou como certa: O PSD tem melhores soluções de governação, melhores lideres, e MFL está longe de pertencer a este patamar de exigencia e de responsabilidade. Entre Sócrates e Ferreira Leite é perceptível a facilidade da escolha, e essa escolha é a que os portugueses têm de fazer. Já chega de quem nos goze e nos considere burros e ignorantes. O que muitos portugueses não deveriam esquecer desde o seu tempo de Ministra da Educação...

18 de maio de 2009

A decisão de Alegre

A decisão de Manuel Alegre não me espanta. Aliás partilho da opinião que atribui à sua decisão um atraso de 3 anos e que explica, sucintamente, que Alegre há muito que não era deputado do PS. Também já aqui o escrevi e mantenho-o.

A decisão de Manuel Alegre é, de facto, uma não notícia, apenas alguns, com exagerada vontade de gerar instabilidade e de fazer ouvir as suas opiniões poderiam defender que Alegre promoveria uma cisão no PS. Não o faz por saber que essa não é a sua vocação e que tal poderia culminar num esvaziamento de capital político que ainda considera ter. Na verdade a grande maioria dos eleitores que apoiaram Alegre fizeram-no num determinado contexto que agora não se repete, e que nem está em causa, mas que não confundem o seu voto numa realidade diferente.

Na minha opinião nem é bom nem mau que Manuel Alegre tenha decidido manter-se no PS e não ser candidato nas próximas legislativas. Mas julgo, ou antevejo, uma participação significativa dos seus indefectíveis como uma segurança do apoio e da força de pressão que o mesmo quer manter. E isso, a acontecer, vai para além de um discurso moralista e patriótico. Muito além, infelizmente…

10 de maio de 2009

É a Europa!...

Em menos de um mês realizam-se as eleições europeias (7 de Junho), e parece-me cada vez mais importante – para os partidos concorrentes – falar de tudo menos da Europa, das organizações internacionais e dos novos modelos de governação que urgem implementar no sistema político europeu.

Não se fala da constituição europeia, como se fosse um pecado, não se aborda a questão da imigração ilegal, como se fosse tema tabu, não se perspectivam estratégias de investimento e de modernidade, como se fosse uma utopia.

O que é importante falar – para os partidos concorrentes – é de uma absurda hipótese de bloco central, ou das políticas nacionais, ou dos ataques ao governo, ou até do mais fútil assunto que normalmente gera o entusiasmo dos políticos em Portugal. Não tenhamos dúvidas de que temos o que merecemos e isso espelha-se numa acção provinciana e infantil que nos caracteriza, que nos deixa ficar para trás quando os outros nos ultrapassam.
Será que uns destes dias nos questionaremos sobre a razão de ser de uma Europa que cresce sem o nosso interesse? É provável que sim, mas então será tarde e já outros estados terão gasto as oportunidades de uma intervenção política forte e mais eficiente.

5 de maio de 2009

Bloco de Conveniências I


A possibilidade de se formar um bloco central a partir das próximas eleições legislativas é uma falácia, maldosa e enganadora, que pretende distrair o povo das verdadeiras circunstâncias em que se realizarão as eleições nacionais. Esta possibilidade é aventada a partir de um grupo de comentadores, ou jornalistas opinadores, e uns quantos politólogos que fazem o favor de baralhar as opiniões dos portugueses como se baralham cartas.

A ideia de um bloco central, discutido agora, subverte a realidade de um país onde o governo maioritário pretende renovar a maioria e onde o maior partido da oposição é inócuo e incapaz de gerar confiança política consistente que mereça a preferência dos eleitores. Portanto, trabalhar sobre este cenário só pode ser uma brincadeira, ou então um acto de desespero na tentativa de erguer o peso de Manuela Ferreira Leite como putativa alternativa de governo.

Seja como for é desonesto. E é também uma provocação á inteligência das pessoas, o que aliás se repete com frequência no espaço e no tempo que estas pessoas usam em jornais, rádios e televisões ao serviço de soluções que por si só anulam a sua credibilidade. Por convenientes blocos de interesses.

Quer se queira quer não se queira as próximas eleições legislativas serão exaustivamente centradas no pedido de uma nova maioria absoluta do PS. E esta legitimidade é tanta como a de defender a sua acção governativa. Quanto ao PSD, já aqui o referi tantas vezes, deve construir o seu caminho e apresentar-se com a confiança de quem acredita no seu projecto.

2 de maio de 2009

Desculpas e lamentos!


Que justificação pode ter o ataque a Vital Moreira? Desaprovação do governo? Desacordo nas ideias? Contas antigas? Seja qual for a resposta o serviço prestado por alguns participantes na comemoração do 1º de Maio, organizadas pela CGTP, é um mau préstimo à democracia e ao país que dizem pretender defender com lutas e ideias alternativas àquelas que têm sido sufragadas pelos portugueses nos últimos 35 anos.

Não é ingénua a reacção dos combativos sindicalistas que atacaram Vital Moreira. Nos últimos meses quer a CGTP quer o PCP têm acicatado os ânimos negativos contra o governo e contra o PS. E esta atitude, pródiga no mais miserável sentido, veio apenas confirmar o “enchimento do balão” que estrategicamente tem vindo a ser feito à porta de fábricas, de escolas, de cimeiras, etc.

O ataque à integridade física e à liberdade de um candidato democrata não tem justificação. Nem perdão. Ou tão pouco se esbate nas desculpas e nos lamentos. O que se passou ontem em Lisboa é apenas uma repetição de outros acontecimentos do género ao longo da nossa democracia. O que ontem ocorreu é também um sinal da fraqueza daqueles que não se convencem que as suas ideias não imperam neste país por vontade do povo português.

As agressões a Vital Moreira tornaram-se no caso de uma campanha frágil de ideias sobre a Europa e o papel de Portugal no contexto europeu e internacional. Porque, é importante dize-lo, os restantes candidatos e partidos fazem destas eleições um combate cerrado ao governo português, contra a necessidade de validar ideias e alternativas no plano europeu. O serviço que os restantes candidatos prestam aos portugueses, cépticos e descrentes destas eleições, é o da inexistência de importância e de secundarismo nas prioridades que deveriam servir os cidadãos. Aquilo em que se está a tornar esta campanha não é muito diferente das agressões ao candidato socialista. Sem desculpas e lamentações!

30 de abril de 2009

Os outros sobre nós


Questione-se o leitor sobre as poucas vezes em que os partidos se uniram em torno da aprovação de uma lei. Pode incluir na resposta a atribuição de louvores e de méritos. Pode excluir a legislação fundamental para o progresso do país desde a justiça à saúde, passando pela economia e pela educação. Na verdade os partidos têm a capacidade de gerar desentendimentos entre si, sobre a capa das diferenças ideológicas. Mas no que respeita à sua sobrevivência e aos interesses internos entendem-se com a mesma facilidade com que constroem argumentação estúpida para justificar o desrespeito pelos portugueses.

Hoje, na AR, todos os partidos se uniram na aprovação de uma nova lei de financiamento dos partidos que multiplica excessiva e vergonhosamente o valor da contribuição dos privados, sem necessidade de justificação, e mantém o valor da subvenção estatal. Tudo isto, ingenuamente claro, num ano em que se realizam três campanhas eleitorais e em que se acentuam as suspeitas e os casos de corrupção na sociedade portuguesa e tanto se fala do enriquecimento ilícito.

A nova lei não só é um retrocesso legislativo como é também um sinal grave dado à sociedade sobre os interesses e as prioridades de entendimento dos partidos. Tenho defendido, e reforço, que esta AR é das que têm contribuído mais para a diminuição da qualidade do debate político e para uma quebra de princípios e de valores de que a sociedade carece ter como referência.

Num acto de lucidez e de ensinamento político o deputado socialista António José Seguro teve a coragem de dizer o que os portugueses pensam e de se opor à aprovação da lei. Fê-lo com os argumentos certos, com a serenidade e a reflexão de quem percebe, embora a juventude que lhe acusam, os efeitos de uma lei desta natureza num momento conturbado como este. Felizmente AJS dá-nos a esperança de que uma nova geração ainda se preocupa com a salvaguarda dos valores e dos interesses colectivos de uma sociedade abandonada, e gozada, pela classe política actual!

22 de abril de 2009

O que Sócrates teve a coragem de dizer...


O primeiro-ministro criticou directa e duramente a TVI, em particular o Jornal Nacional de Sexta-feira, por considerar aquele programa de informação persecutório na detracção e no ataque pessoal de que se considera vítima. Analisadas as coisas com superficialidade é fácil acusar Sócrates de uma atitude sem precedentes e que pouco dignifica o seu mandato de estado. Mas se reflectirmos sobre as palavras e aprofundarmos a memória de um programa de informação cujo principal destaque está na pronúncia de opiniões e considerandos pessoais da jornalista entenderemos o que quis dizer o PM.

O que Sócrates teve a coragem de dizer é o que muitos políticos pensam, e empresários e outros portugueses que se esforçam para não assistir a tal programa. Porque o que é demais também cansa é importante que alguém tenha a coragem de dizer que neste país há um jornalismo bacoco e rude que se constitui como arauto dos bons costumes, mas que não é mais do que o abuso e a desconsideração pelos valores e pela ética.

O que Sócrates teve a coragem de dizer é perceptível por todos aqueles que se vestirem de bom senso e que sejam respeitadores das causas individuais e colectivas. Porque num estado de direito é importante valorizar e proteger a imprensa e a liberdade de quem escreve informação como profissão. Mas no mesmo estado de direito não podem estar em causa as liberdades e as garantias de cada cidadão em submissão do entendimento que um outro (por ser jornalista) que ostenta a subjectividade como se tratasse da mais impoluta avaliação de carácter.

O que Sócrates teve a coragem de dizer merece uma reflexão dos políticos e dos portugueses, não porque o PM é a vítima mas porque está em causa um crescente mau exercício do poder de informar. E se percebermos as palavras de Sócrates sabemos que não generalizou, que não incluiu nesse rol os jornalistas enquanto classe ou a comunicação social como sector, o que disse foi com total objectividade, com factos e argumentos que cheguem para que fosse um primeiro-ministro a dizê-lo.

Em resposta o Director-Geral da TVI, Eduardo Moniz, decidiu processar o PM. Embora a legitimidade da ofensa e do processo deveria o mesmo reconhecer a Sócrates o direito a se defender de um ataque massivo à sua honorabilidade nos últimos meses, como aqui referi.

29 de março de 2009

O proveito sobre o demérito


Considero a discussão sobre os prémios dos gestores um absurdo típico de uma sociedade habituada a valorizar o acessório em detrimento do essencial. E quando refiro a sociedade não desculpo os líderes de opinião que nos jornais e nas televisões e nos partidos viciam a argumentação séria e objectiva.

Na verdade nada me incomoda que os gestores sejam premiados pelo desempenho das suas funções, desde que esse desempenho se centre nos objectivos de mérito e de serviço cumprido. Tão pouco constitui preocupação o facto de gestores – públicos ou privados – serem reconhecidos pelo seu trabalho, o que normalmente se reflecte na vitalidade das empresas, na garantia dos postos de trabalho e no desenvolvimento da economia.

Ou seja, se um gestor conseguir cumprir os objectivos traçados pelos accionistas – e no caso das empresas do estado relembro que esses accionistas somos nós – e no seu cumprimento valorizar os activos e aumentar a produtividade e o lucro, então parece-me óbvio e sensato quer esse gestor seja premiado.

Mas o que parece ser a confusão e o aproveitamento para se tratarem todos como igual é o pagamento de prémios a maus gestores, aqueles que geram sucessivos prejuízos nas empresas que administram. E esse é evidente que não merecem prémios ou sequer a confiança dos seus accionistas, mas no caso dos privados esse é um problema que nos transcende, excepto no caso dos apoios estatais.

E no caso das empresas públicas – e existem muitos casos, infelizmente – a solução passa por contribuir com uma nova carreira na vida profissional de tais gestores. E isto é tão básico que me parece absurdo querer tratar todos como prevaricadores e incompetentes. Aliás este discurso, populista e radical, da esquerda caviar e da direita propagandística é um mau estímulo para que se regenerem os perfis dos gestores.

Agora, prejudicar os gestores que em circunstâncias difíceis e de crise foram capazes de gerar riqueza, promover investimento e manter postos de trabalho não é apenas “inveja social”, é também e sobretudo burrice, no mais elementar sentido da expressão. E com isto Portugal não tem nada a ganhar, pelo contrário estimula a saída de gestores para o estrangeiro, o que nos últimos anos tanto temos lamentado.

Por fim, a boleia que muitos quiseram aproveitar foi a dos casos americanos e da intervenção de Obama na repartição de prémios nas empresas intervencionadas. Outro erro de análise, que espelha o sentido reactivo e oportunista, porque no caso em concreto as intervenções existiram e a justiça actua, e aqui não. Como português fico contente e satisfeito com os lucros da PT e da EDP, e de tantas outras empresas, porque essa é missão do sector mais contributivo em Portugal!

26 de março de 2009

A falência dos critérios


A SIC tem dado notícia de uma eventual insolvência do Estado Português em 2014. Esta ideia, contabilizando os investimentos públicos e o seu pagamento nos próximos anos, tem passado como uma catástrofe que colocaria o país na banca rota e se hipotecariam as gerações futuras. Não pretendo discutir os procedimentos técnicos e científicos que basearam esta notícia, nem tão pouco levantar quaisquer suspeitas sobre as motivações e oportunismo da respectiva reportagem.

No entanto esta ideia é secundada por alguns economistas. E neste caso já percebo a preocupação. De facto nenhum deles soube, ou foi capaz, de prever a crise que vivemos. Nenhum deles questionou ou contradisse as medidas e as opções em investimento público que Manuela Ferreira Leite tomou enquanto Ministra de Estado e de Finanças de Durão Barroso, a recordar: o pagamento especial por conta; o TGV (!?); Auto-estradas; SCUTS; o aumento do IVA; o aumento do IRC; O Aeroporto da OTA (!?); etc. E nesta altura o défice andava acima dos 6%!...

E numa reacção imediata às declarações destes economistas é normal que se gere um pânico desmedido e uma alarmante preocupação no seio dos portugueses, e ainda, mas não menos grave nos investidores privados, os portugueses e os estrangeiros. E posto isto o que pareceria ser um exercício de puro academismo não mais é que uma falácia e um engodo demagógico em período eleitoral.

Se é verdade que o investimento público agrava a despesa do Estado também é verdadeiro que o mesmo estimula a economia, dinamiza as empresas, fomenta mais emprego, atrai mais investimento estrangeiro, aumenta as exportações, reforça a cobrança de impostos e diminui os custos sociais do Estado. É igualmente verdade que o que gastarmos hoje iremos pagar amanhã, mas esse é o custo da oportunidade, as opções que se devem sobrepor às indecisões. E neste caso, parafraseando o PM: “Já chega de descrever, é tempo de agir!”.

24 de março de 2009

Os pais deles

Foto: RTP1

Os estudantes do ensino secundário realizaram hoje uma manifestação em praticamente todo o país com o objectivo de contrariar as políticas introduzidas no sistema, mais concretamente com: o aumento do apoio social; a não privatização do ensino público; a eliminação das propinas; e a revisão do estatuto dos alunos. Feita a manifestação percebemos a fraca adesão, fruto de uma incapacidade de mobilizar, e o desacerto temporal desta reivindicação.

Em primeiro lugar é importante perceber que os alunos fizeram um aproveitamento da contestação social que incide sobre o governo, querendo, à boleia, fazer valer mais incómodo para a Ministra da Educação. Depois importa entender que nas reivindicações – cujas legitimidades e algumas razões lhes assistem – os alunos deixaram passar o tempo, ou melhor o tempo passou por eles, ficando reféns de factos consumados.

Num e noutro caso é fácil compreender que os alunos de hoje não são o porta-estandarte das lutas e das convicções ideológicas e de valores de outros tempos. E não o são por culpa própria e por elementos externos. Hoje muito se cultiva o individualismo, o salve-se quem puder, deixando-se cair os interesses colectivos e as lutas de gerações. A geração de hoje adormeceu no meio de vídeo jogos e chats, perdeu o tempo das coisas entre festivais e outras distracções que lhes retiraram a liberdade de pensamento na ligação à vida real. Dirão alguns que é o progresso da sociedade. Pois será, mas é um mau exemplo de progresso. Porque precisamos de uma juventude activa e critica, que seja interventiva e defensora de novos valores de convivência e de responsabilidade.

Mas a grande alteração na sociedade educativa e que condicionou e modificou a participação dos alunos na sua vida adolescente não é da sua responsabilidade directa: hoje os pais – através das associações de pais e confederações – substituiram os filhos, os alunos, na defesa dos seus direitos e até no eventual erro da sua actividade contestatária (essencial para se formarem como cidadãos). O que os pais estão a fazer é mais que substituírem os filhos: é serem proteccionistas dos mesmos, anulando-lhes a necessidade de formarem reflexões e tornando-se os pais, novamente, os agentes de um sistema de ensino que já não lhes pertence. E tão curioso ou irónico é o facto de serem estes pais os baluartes de uma geração contestatária que encheu ruas e fechou escolas, que enfrentou ministros e obrigou à rectificação de políticas e que são hoje os mais conservadores cidadãos e em muitos casos a anulação do valor dos próprios filhos.

18 de março de 2009

Prover soluções

É um facto que PS e PSD não se entendem quanto à nomeação de um Provedor de Justiça. É outro facto que Nascimento Rodrigues acumula o tempo de excesso numa função que já nada lhe diz e que se encontra no meio de um absurdo desentendimento partidário. E a isto não resiste o sistema democrático.

Não me parece importante apurar responsabilidades. A verdade é que a culpa se reparte numa ligeira interpretação dos cargos públicos, sobretudo aqueles em que está em causa o funcionamento das instituições. E nem o PS nem o PSD são capazes de perceber tal urgência e prioridade. Desde que a cada um se satisfaça um ego de poder e de prestigio. Enquanto isso a credibilidade da democracia descai aos olhos dos cidadãos.

E aos cidadãos é-lhes passada uma imagem de controlo sobre quem os protege! Aos cidadãos, num estado em que a justiça é morosa e nem sempre eficaz, é dado a entender que antes dos seus interesses existem outros que importam salvaguardar. E num mandato tão activo, é oportuna uma intervenção do Presidente da República: não para vetar nomes, mas para fazer um ponto de ordem à mesa e retomar – como lhe compete – o melhor funcionamento das instituições!


15 de março de 2009

Opções de governabilidade


Para José Sócrates as manifestações e a contestação social que saem à rua são manipulação do PCP, através da CGTP. Para Jerónimo de Sousa o Primeiro-ministro está enganado na análise e distante de uma realidade nacional bem mais grave. Mas, vistas as coisas, ambos têm razão: é o PCP quem lidera as manifestações sociais, usando o movimento sindical, a exemplo de uma prática mais acutilante e conservadora a que o actual líder não é alheio. Mas também Sócrates ignora, ou finge ignorar, uma realidade séria de dificuldades e constrangimentos com que os portugueses – na sua maioria – se deparam.

E num e noutro argumento existe um aproveitamento típico das lutas políticas: nem a contestação social sindical respeita à imagem o país real, nem o PM dá sinais de um combate férreo para minorar as dificuldades. Porque no primeiro caso o PCP usa o mediatismo como arma para ferir ainda mais a imagem do governo, e tão só com esse objectivo, capitalizando os votos descontentes que tradicionalmente acolhe; e ainda porque no segundo caso o governo responde aos ataques numa defesa proporcional descurando as frentes reais.

Não tenho dúvidas de que o exercício deste governo é entre o razoável e o bom, longe de ser muito bom embora outro partido também não o pudesse atingir, e nesta avaliação o resultado é positivo! Podem-se referir as conjunturas que o marcaram nos primeiros dois anos e as outras que o agravaram nestes últimos dois. Podem-se desculpar um ou outro erro, de casting ou de política, alguns recuos ou excessivos avanços, mas o governo tem dado sinais de estabilidade e de determinação, o que para a confiança nacional é de maior importância. Já ouvir o SG do PCP afirmar que está disponível para governar caso os eleitores o queiram, para além de ser uma constatação demasiado óbvia, cria algum desconforto na estrutura de segurança dos portugueses.

Tenho dito e escrito, repetidas vezes, que um dos factores essenciais para o crescimento do país é a constituição de uma oposição forte e credível. E a verdade é que essa alternativa não existe. E o PCP, tal como o BE e o CDS, perceberam o desmoronamento da bipolarização, e trazem para a rua a contestação que sabem ser mais eficaz do que os lautos discursos. Mas que é insuficiente para construir alternativa.
Mas a alternativa persiste em não acontecer, porque o gigante adormecido - leia-se PSD - ainda não encontrou o seu rumo no meio disto tudo. Por uma ou por outra razão importa perceber, que não sendo este um governo perfeito, ou com resultados excepcionais, o que se percebe não ser fácil nas actuais circunstâncias, a oposição está longe de poder assumir a governabilidade do país. E isto não é mero exercício de chantagem política, é uma contestação de facto, a que a manipulação sindical do PCP não é alheia, nem tão pouco a acção governativa. Em política raramente as coisas acontecem por acaso…

7 de março de 2009

O efeito espelho de Manuel Alegre

Foto: RTP


Em entrevista ao Expresso, o Deputado e militante do Partido Socialista Manuel Alegre afirmou que caso a lei o permitisse promoveria uma candidatura independente contra o PS, nas legislativas! Uma semana depois da sua ausência no Congresso, uma semana depois de ter aceite fazer parte da Comissão de Honra do Congresso, uma semana depois de ter recusado integrar os órgãos nacionais do partido a convite de José Sócrates, o deputado que se afirma da génese do combate ao fascismo e da luta pela liberdade, vem dar uma vez mais uma machadada na sua militância e no partido que lhe deve muito mas que também é credor da figura em que Alegre se constituiu.

Com esta atitude, e somando todas as outras, está mais que provado que Manuel Alegre não é apenas um resistente das causas – o que aliás já referi várias vezes não são preocupações do mesmo – mas também, e sobretudo, um corredor solitário, com agenda própria e um ego por alimentar maior que o do próprio PS e da esquerda portuguesa. O que Alegre quer é um país atento aos seus ditos, à inoportuna divisão que promove, como se fosse um salvador da pátria de que a pátria não carece. O que Manuel Alegre está a construir é um fosso entre a sua figura e a sociedade que se cansa dos seus métodos e dos calculismos com que define um percurso político.
Também eu sou, em muitas matérias, divergente da opinião do PS. E também eu não me coíbo de argumentar pelas minhas convicções, mas jamais o farei à custa de um projecto democrático essencial para Portugal, como é o Partido Socialista. Também, numa ou noutra ocasião, alguns confundiram as minhas criticas com a oportunidade de me virar contra o PS, mas enganaram-se porque não confundo o PS com os caminhos ocasionais que percorre. E Manuel Alegre vive para além de uma liberdade de opinião, que o PS acolhe e respeita. Vive, sobretudo, e atrevo a escrever exclusivamente, para si numa relação fechada como se entre si e o país apenas existisse um espelho de vaidades. E o caminho que segue, o que escolhe nas suas palavras e nas suas acções, deveria fazê-lo reflectir sobre o porquê da sua permanência no PS! Porque se está mal pode sempre sair, e porque se considera tão imprescindível pode sempre constituir-se como alternativa democrática. Agora, o que Alegre não pode fazer é usar o PS para ter voz pelo simples facto de estar em precisos desacordos.

1 de março de 2009

Vitalidade e Consequência

Foto: Daqui


A escolha de Vital Moreira para encabeçar a lista do PS às eleições europeias é uma surpresa positiva que Sócrates guardou para anunciar no Congresso nacional. Mas mais que surpreendente é a importante decisão do académico na aceitação desta missão: porque se trata de alguém cuja respeitabilidade é inquestionável, cujo percurso profissional é notável e que carrega consigo um pensamento construtivo e amplo sobre as diversas questões. Não seria previsível que Vital Moreira aceitasse tal desafio, mas aceitou-o com argumentos e objectivos concretos, tal qual se esperaria de uma figura tão destacada da democracia portuguesa.

Mas desta candidatura tiram-se outras elações como o facto de demonstrar a vitalidade do PS e a sua capacidade de mobilizar a sociedade civil, sobretudo num momento em que se questionava essa capacidade de recrutar para o seu projecto político cidadãos com a dimensão e a credibilidade moral e ética de Vital Moreira. E este não é um ponto de somenos importância, pelo contrário, traz à imagem de Sócrates e do PS um voto de confiança de uma sociedade civil que se revê nas políticas e na acção dos socialistas. Este recrutamento, e agora se percebe que mais existirão nos próximos tempos, reflecte a abrangência do PS e a cumplicidade que gera na sociedade através do seu projecto.

Seria um sinal de fragilidade – o que é um traço comum aos partidos no governo – que a sua capacidade de desafiar figuras de mérito fosse negada pelos próprios: a isto se chama a descredibilização dos projectos políticos. Mas não é este o caso, pelo contrário.

Outro dado relevante desta candidatura é o facto de a mesma reflectir sobre a importância do acto eleitoral em questão e sobre a fundamental participação de Portugal no Parlamento Europeu. E fazê-lo com um critério de abrangência, com uma figura da dimensão de Vital Moreira, deixando de lado as conveniências partidárias e os compromissos internos, é uma marca que Sócrates deixa quanto à importância que atribui ao exercício da vida política. E convenhamos, nos tempos presentes é algo elogiável.

Do ponto de vista eleitoral é evidente que se trata de uma grande escolha, pela abrangência, principalmente em toda a esquerda, pelo nível de debate que impõe e sobretudo pelo rombo que provoca no interior do PSD, cujo putativo candidato será sempre refém desta candidatura. Mas o importante é que o debate se faça e que se faça com o sentido de credibilidade política que Sócrates e Moreira anunciaram.

26 de fevereiro de 2009

A urgência dos novos tempos

Começa amanhã em Espinho o Congresso do PS. Este conclave socialista não trará novidades na liderança uma vez que Sócrates foi reeleito, mas será um bom ponto de partida para um debate interno sobre o PS e o governo. Não acredito nos que levantam a suspeita do medo de alguns militantes se expressarem por outras visões diferentes da direcção nacional.

No entanto é importante que o Partido Socialista debata a sua acção, mais que o posicionamento das suas políticas à esquerda ou à direita, porque isso me parece irrelevante e inconsequente nas sociedades modernas, mas sim um debate sério e profundo sobre o futuro de Portugal e as medidas concretas e imediatas de combate à crise económico-social.

O que o país e os portugueses precisam de ouvir dos partidos em geral e do PS em particular é uma voz de esperança, o apontar de um novo rumo, a apresentação de novas soluções para os problemas cada vez mais agudizantes. O que o PS tem como responsabilidades política e histórica é a comunhão face às dificuldades e a garantia de tratar dos problemas dos portugueses, hoje e no futuro, com absoluta dedicação e exclusividade. E essa é a diferença que o distinguirá nos actos eleitorais deste ano. Porque um povo sem esperança é um povo incapaz de renovar confianças nos seus governantes.

Será natural que o rumo do país se discuta para além deste período. E nessa perspectiva fará sentido abordar questões a médio longo prazo como a regionalização e a educação, ou a saúde e a cultura. Haverá certamente espaço para introduzir questões de cidadania como a legalização dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Mas o que os portugueses querem ouvir, e do que querem saber, é do caminho seguro para melhorar a sua qualidade de vida e ultrapassar estas extraordinárias adversidades.

24 de fevereiro de 2009

Caminhos inversos

Foto: Atuleiros


Setenta mil novos desempregados inscritos nos centros de emprego só em Janeiro! O número é preocupante e a realidade séria e grave! Este não é o momento para se disputarem lugares no pódio das propostas milagrosas. Por muitas justificações que o número crescente de desempregados tenha a verdade é que existem e são no total mais de quatrocentos mil cidadãos.

Já aqui defendi propostas e critiquei outras, já por aqui reagi à demagogia nascida de um ano eleitoral aceso, mas também já aqui defendi que a solução está nas várias propostas, no sumo de todas elas, eliminando o populismo. Ou seja, o que importa é perceber que estamos a falar de pessoas, de famílias, de gente sufocada em situações de fragilidade financeira e psicológica. E a responsabilidade dos partidos, e do governo naturalmente, é de nos conduzirem num novo caminho de esperança e de confiança. E esse caminho exige medidas concretas e imediatas. E essa esperança não pode esmorecer nos rostos dos portugueses. É preciso fazer mais. É urgente fazer melhor.

Defendo o investimento público como alavanca da economia. Reconheço a importância da diminuição da carga fiscal sobre empresas cumpridoras e cidadãos. Admito as medidas de protecção social. Mas o nosso caminho está num pacto de entendimento económico e social que congregue várias visões, incluindo as dos parceiros sociais. Importa combater esta dificuldade. E para a combatermos é necessário admitir que passamos a crise económica e entramos no plano da crise social. Porque o que o desemprego reflecte é uma carência social e o aumento das desigualdades. E mesmo aqueles que vivem na ilusão de que os males apenas ocorrem aos outros devem estar preparados porque o futuro próximo é uma contrariedade real.