24 de março de 2009

Os pais deles

Foto: RTP1

Os estudantes do ensino secundário realizaram hoje uma manifestação em praticamente todo o país com o objectivo de contrariar as políticas introduzidas no sistema, mais concretamente com: o aumento do apoio social; a não privatização do ensino público; a eliminação das propinas; e a revisão do estatuto dos alunos. Feita a manifestação percebemos a fraca adesão, fruto de uma incapacidade de mobilizar, e o desacerto temporal desta reivindicação.

Em primeiro lugar é importante perceber que os alunos fizeram um aproveitamento da contestação social que incide sobre o governo, querendo, à boleia, fazer valer mais incómodo para a Ministra da Educação. Depois importa entender que nas reivindicações – cujas legitimidades e algumas razões lhes assistem – os alunos deixaram passar o tempo, ou melhor o tempo passou por eles, ficando reféns de factos consumados.

Num e noutro caso é fácil compreender que os alunos de hoje não são o porta-estandarte das lutas e das convicções ideológicas e de valores de outros tempos. E não o são por culpa própria e por elementos externos. Hoje muito se cultiva o individualismo, o salve-se quem puder, deixando-se cair os interesses colectivos e as lutas de gerações. A geração de hoje adormeceu no meio de vídeo jogos e chats, perdeu o tempo das coisas entre festivais e outras distracções que lhes retiraram a liberdade de pensamento na ligação à vida real. Dirão alguns que é o progresso da sociedade. Pois será, mas é um mau exemplo de progresso. Porque precisamos de uma juventude activa e critica, que seja interventiva e defensora de novos valores de convivência e de responsabilidade.

Mas a grande alteração na sociedade educativa e que condicionou e modificou a participação dos alunos na sua vida adolescente não é da sua responsabilidade directa: hoje os pais – através das associações de pais e confederações – substituiram os filhos, os alunos, na defesa dos seus direitos e até no eventual erro da sua actividade contestatária (essencial para se formarem como cidadãos). O que os pais estão a fazer é mais que substituírem os filhos: é serem proteccionistas dos mesmos, anulando-lhes a necessidade de formarem reflexões e tornando-se os pais, novamente, os agentes de um sistema de ensino que já não lhes pertence. E tão curioso ou irónico é o facto de serem estes pais os baluartes de uma geração contestatária que encheu ruas e fechou escolas, que enfrentou ministros e obrigou à rectificação de políticas e que são hoje os mais conservadores cidadãos e em muitos casos a anulação do valor dos próprios filhos.

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