15 de março de 2009

Opções de governabilidade


Para José Sócrates as manifestações e a contestação social que saem à rua são manipulação do PCP, através da CGTP. Para Jerónimo de Sousa o Primeiro-ministro está enganado na análise e distante de uma realidade nacional bem mais grave. Mas, vistas as coisas, ambos têm razão: é o PCP quem lidera as manifestações sociais, usando o movimento sindical, a exemplo de uma prática mais acutilante e conservadora a que o actual líder não é alheio. Mas também Sócrates ignora, ou finge ignorar, uma realidade séria de dificuldades e constrangimentos com que os portugueses – na sua maioria – se deparam.

E num e noutro argumento existe um aproveitamento típico das lutas políticas: nem a contestação social sindical respeita à imagem o país real, nem o PM dá sinais de um combate férreo para minorar as dificuldades. Porque no primeiro caso o PCP usa o mediatismo como arma para ferir ainda mais a imagem do governo, e tão só com esse objectivo, capitalizando os votos descontentes que tradicionalmente acolhe; e ainda porque no segundo caso o governo responde aos ataques numa defesa proporcional descurando as frentes reais.

Não tenho dúvidas de que o exercício deste governo é entre o razoável e o bom, longe de ser muito bom embora outro partido também não o pudesse atingir, e nesta avaliação o resultado é positivo! Podem-se referir as conjunturas que o marcaram nos primeiros dois anos e as outras que o agravaram nestes últimos dois. Podem-se desculpar um ou outro erro, de casting ou de política, alguns recuos ou excessivos avanços, mas o governo tem dado sinais de estabilidade e de determinação, o que para a confiança nacional é de maior importância. Já ouvir o SG do PCP afirmar que está disponível para governar caso os eleitores o queiram, para além de ser uma constatação demasiado óbvia, cria algum desconforto na estrutura de segurança dos portugueses.

Tenho dito e escrito, repetidas vezes, que um dos factores essenciais para o crescimento do país é a constituição de uma oposição forte e credível. E a verdade é que essa alternativa não existe. E o PCP, tal como o BE e o CDS, perceberam o desmoronamento da bipolarização, e trazem para a rua a contestação que sabem ser mais eficaz do que os lautos discursos. Mas que é insuficiente para construir alternativa.
Mas a alternativa persiste em não acontecer, porque o gigante adormecido - leia-se PSD - ainda não encontrou o seu rumo no meio disto tudo. Por uma ou por outra razão importa perceber, que não sendo este um governo perfeito, ou com resultados excepcionais, o que se percebe não ser fácil nas actuais circunstâncias, a oposição está longe de poder assumir a governabilidade do país. E isto não é mero exercício de chantagem política, é uma contestação de facto, a que a manipulação sindical do PCP não é alheia, nem tão pouco a acção governativa. Em política raramente as coisas acontecem por acaso…

1 comentário:

  1. As palavras de Mário Soares acerca desta problemática uma vez mais vem colocar o dedo na ferida.É pena, e eu que tanta vezes o contestei, este grande senhor da politica ter a idade que tem, apesar desta realidade tem uma lucidez e uma capacidade de análise como ,certamente ,na nossa área politica ninguém tem.

    ResponderEliminar