7 de março de 2009

O efeito espelho de Manuel Alegre

Foto: RTP


Em entrevista ao Expresso, o Deputado e militante do Partido Socialista Manuel Alegre afirmou que caso a lei o permitisse promoveria uma candidatura independente contra o PS, nas legislativas! Uma semana depois da sua ausência no Congresso, uma semana depois de ter aceite fazer parte da Comissão de Honra do Congresso, uma semana depois de ter recusado integrar os órgãos nacionais do partido a convite de José Sócrates, o deputado que se afirma da génese do combate ao fascismo e da luta pela liberdade, vem dar uma vez mais uma machadada na sua militância e no partido que lhe deve muito mas que também é credor da figura em que Alegre se constituiu.

Com esta atitude, e somando todas as outras, está mais que provado que Manuel Alegre não é apenas um resistente das causas – o que aliás já referi várias vezes não são preocupações do mesmo – mas também, e sobretudo, um corredor solitário, com agenda própria e um ego por alimentar maior que o do próprio PS e da esquerda portuguesa. O que Alegre quer é um país atento aos seus ditos, à inoportuna divisão que promove, como se fosse um salvador da pátria de que a pátria não carece. O que Manuel Alegre está a construir é um fosso entre a sua figura e a sociedade que se cansa dos seus métodos e dos calculismos com que define um percurso político.
Também eu sou, em muitas matérias, divergente da opinião do PS. E também eu não me coíbo de argumentar pelas minhas convicções, mas jamais o farei à custa de um projecto democrático essencial para Portugal, como é o Partido Socialista. Também, numa ou noutra ocasião, alguns confundiram as minhas criticas com a oportunidade de me virar contra o PS, mas enganaram-se porque não confundo o PS com os caminhos ocasionais que percorre. E Manuel Alegre vive para além de uma liberdade de opinião, que o PS acolhe e respeita. Vive, sobretudo, e atrevo a escrever exclusivamente, para si numa relação fechada como se entre si e o país apenas existisse um espelho de vaidades. E o caminho que segue, o que escolhe nas suas palavras e nas suas acções, deveria fazê-lo reflectir sobre o porquê da sua permanência no PS! Porque se está mal pode sempre sair, e porque se considera tão imprescindível pode sempre constituir-se como alternativa democrática. Agora, o que Alegre não pode fazer é usar o PS para ter voz pelo simples facto de estar em precisos desacordos.

2 comentários:

  1. Parece-me que este texto contradiz algumas opiniões que tem expressado, designadamente em relação a militantes de outros partidos...
    Não faço juizos ao carácter de Manuel Alegre. Acho que tem tido um papel importante em mostrar que há quem no PS e na sua área quem não concorde com a política seguida pelo governo PS. O PS - os que apoiam esta política ou, não concordando com ela, se acomodam - parecem mais interessados em segurar o poder, independentemente da forma como este está a ser usado e da sua concordância ou não com os seus princípios fundadores.
    Mas esta é só a minha opinião, de alguém que não é do PS mas que julga compreender as dificuldades que Manuel Alegre tem em decidir se deve manter-se no partido em que sempre teve participação activa - e quantas vezes decisivas? - ou se já não vale a pena tentar mudar o que considera estar maal.

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  2. LG: Não vejo onde possa ser contraditório. Respeito e valorizo a capacidade de Manuel Alegre ser critico relativamente ao PS. Eu próprio o sou em muitas matérias. Admiro em Alegre uma atitude inconformada perante os sensos comuns que se instalam e que conduzem os partidos ao marasmo. Sei que é importante que os militantes dos partidos sejam intervientes na variedade das opiniões e dos pensamentos. Conforta-me saber que no PS essa cultura se mantém e o credibiliza. Mas ser critico e pertinente, ser incómodo e acutilante nada tem a ver com uma figura que se disponibiliza para se candidatar contra o partido onde milita! Isso é um limite que ultrapassa e destrói a coerência de qualquer um. E é nesse aspecto que digo o que digo sobre Manuel Alegre. Não me parece que Alegre seja só isto, mas é o próprio que o demonstra, ora com o PS ora contra o PS, de acordo com uma agenda pessoal muito cuidada.

    Não me ofende nada que Alegre seja critico, que participe nos órgãos do PS ou só como militante, que intervenha com fulgor e chame à atenção para muitos erros que o PS e este governo cometem. Mas não sei se Alegre tem a dúvida que levanta o LG, mais me parece que vai "atirando barro à parede", à espera de outras reacções.

    Um abraço

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