9 de janeiro de 2009

A arrogância da lamúria

Foto: SIC.PT

A compositora Paula de Castro Guimarães – que desconheço, mas cujo trabalho artístico é elogiado pela Direcção Geral das Artes e pelo próprio Ministro da Cultura – aproveitou uma cerimónia pública com o Primeiro-ministro para realçar a deselegância com que muitos artistas/gestores culturais tratam dos assuntos do sector.

Não quero, até por desconhecimento, avaliar da suficiência dos apoios que a Associação que a Senhora dirige recebe anualmente do Estado: mas para que conste são 200 mil euros anualmente; o que representa, de acordo com a própria, 30% do orçamento de receitas da Associação. Falta-lhe avaliar do valor apoiado através da isenção fiscal.

O que me choca e se repete até à exaustão do aceitável é que para a maioria dos artistas/gestores culturais tudo o que criam e produzem tem uma carga subsidiária. Para os mesmos é competência indissociável do Estado subsidiar e apoiar todas as estruturas e todos os projectos. E em Portugal é razão suficiente constituir uma Associação do sector para que os financiamentos comecem a correr. Em mais nenhum sector esta questão se coloca. Em mais nenhum país europeu esta condição é relevante.

Ou seja, para que fique claro e se desfaçam dúvidas: sou a favor dos apoios públicos à criação artística, mas com critérios de adjudicação e com mecanismos de acompanhamento e de supervisão. Sou a favor que o Estado fomente a intervenção cultural, em particular, atribuindo-lhe o valor de mais valia económica essencial para o desenvolvimento nacional e para a educação de gerações.

Mas igualmente questiono se os artistas/gestores culturais não deverão entender a cultura como uma área de negócio e as Associações, que mais não são do que empresas com isenções fiscais, como instrumentos moldados para gerar também riqueza económica e meios de sobrevivência. Não é aceitável que muitas Associações do género sobrevivam a balões de oxigénio do Governo ou das Autarquias, sem garantias de qualidade, sem planos estratégicos de intervenção cultural a médio longo prazo. Em suma, basta existir para ser. E este critério é redutor e insuficiente. E esta arrogância é provocadora de um sentido patriótico que se deveria sobrepor aos egos.

Tenho pelos agentes culturais e em particular pelos criadores elevado respeito, acredito no valor da sua função e defendo a sua afirmação no contexto do desenvolvimento nacional. No entanto, não creio que seja através de uma defesa corporativista que lá possam chegar. Reconheço e critico a desatenção e a insensibilidade de vários, ou todos, os governos para o sector. Admito e critico o débil valor orçamental do Ministério e a sua inacção em muitas matérias, mas não aceito ou tolero a arrogante vitimação dos que se queixam de barriga cheia.

Sem comentários:

Enviar um comentário