15 de janeiro de 2009

Quem acredita em verdades absolutas?


Depois da entrevista de Manuela Ferreira Leite à RTP1:

1- Defende uma baixa de impostos, embora o diga genericamente, como a grande solução de combate à crise. A sua proposta é sobretudo ideológica e do ponto de vista técnico, segundo Silva Lopes, é tão valiosa quanto a que o governo defende de promoção do investimento público. São duas opções válidas para o mesmo problema, mas o verdadeiro problema está na dificuldade em prever as consequências da crise. O que a líder do PSD defende pode ser considerado tão irresponsável e demagógico quanto o que defende o governo. Ambos fazem passar a mensagem de que dizem a verdade aos portugueses, mas dizem sempre as suas verdades, e neste caso ambas as intenções são verdadeiras.

A única situação em que MFL se comprometeu foi a de baixar o IRS caso seja governo. Pois bem, para quem tem a áurea de reputada e rigorosa economista, defender uma baixa no IRS sem explicar escalões e percentagens é no mínimo passível de ser nomeada de demagógica e populista. E nesta matéria critica ainda o governo por defender uma solução de aumento da despesa pública, criando nos portugueses o estigma da ingovernabilidade dos recursos públicos. Não é do que se trata: o governo defende o investimento público e isso não só desenvolve o país em infra-estruturas e aumenta a sua competitividade como protege centenas de milhar de empregos e garante a dinamização de milhares de empresas. Exige-se mais à líder do PSD. Muito mais que mera propaganda eleitoral. A credibilidade não está nos silêncios e nas contenções, faz-se da coerência e do rigor das palavras.

2- Defende que no plano dos investimentos públicos deixaria cair o TGV. Não concretizou nada mais que um estudo desconhecido relativamente à viabilidade deste projecto. Ora, o que não diz é que se não for feita a linha Lisboa – Madrid, a única com comparticipação da União Europeia, Portugal não só perde uma oportunidade irrepetível de financiamento como se afasta da Europa Central por mais umas dezenas de anos. Sou dos que defende como prioritária apenas esta ligação e nenhuma outra nas actuais circunstâncias. Mas o que MFL quer dizer é que como não é popular a decisão de construir o TGV então mais vale dizer que o não faz. Curiosa foi a actuação enquanto Ministra das Finanças e de Estado de Durão Barroso, ao mesmo tempo em que obrigava os portugueses ao apertar do cinto com medidas ásperas aprovou a construção do TGV com os mesmos argumentos que aqui expus.

Em contraponto na entrevista da semana passada José Sócrates não mencionou nenhuma grande obra. Referiu, com cuidada exactidão, três sectores onde o investimento público iria incidir: parque escolar, banda larga e protecção social.

No decorrer da entrevista, a líder do PSD, falou ainda do momento interno do PSD. E neste aspecto não me parece que tenha dito para além do que lhe compete como candidata a primeiro-ministro. Mas um passado recente em que Ferreira leite e Santana Lopes se combatiam, não só politica como pessoalmente, fica a partir de hoje na memória dos momentos de antologia. O que MFL desdisse é demasiado para se comentar. Sabe-se que no momento em que o PSD se pode aproximar do poder as quezílias são adormecidas, o que não significa que não existam.

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