7 de janeiro de 2009

O valor da disciplina

Acredito que grande parte dos acontecimentos protestativos dos professores se deveu a uma diminuta sensibilidade da Ministra da Educação. Se tinha do seu lado a razão genérica sobre os objectivos e a necessidade de introduzir medidas de correcção e de credibilidade do sistema, foi por pura inabilidade e/ou pouca vontade de dialogar que se extremaram tanto as posições. Outras razões tinham os professores, nomeadamente, no que respeita à forma de implementar no terreno as medidas. Quem soube, e bem, aproveitar a situação e tirar partido de uma mobilização histórica foi o líder da plataforma sindical Mário Nogueira. A sua intervenção inicial foi decisiva para animar a participação dos professores, para criar agitação e fazer entender ao governo que algo deveria ser mudado. E o governo, embora timidamente, mudou. Mudou o que se considerava obstruir a execução do processo de avaliação. Mas entre mudar alguns aspectos e suspender a avaliação vai um longo caminho. Mais que intervir com justiça na defesa dos interesses de uma classe, Mário Nogueira, apercebendo-se do impacto nacional, viu-se motivado por razões mais partidárias.

Começou por ser difícil de compreender quando preferiu a não negociação à resolução do problema, sendo que o seu interesse na suspensão como condição única para o diálogo é bem mais grave que a arrogância de que acusou o governo. Ainda mais inconcebível é a atitude de incentivar professores ao incumprimento de uma lei. Suspender por iniciativa própria a avaliação nas escolas é um acto de grave irresponsabilidade e um exemplo feio. Se os critérios dos valores e dos princípios que argumentaram a luta dos professores se mantiverem deverão ser os últimos a promover tal acto ilícito. E a um acto ilícito corresponde uma sanção/punição: daí ser normal, e até aceitável e desejável, que os organismos competentes do Ministério da Educação procedam em conformidade. Uma coisa é tão elementar e legitima como o direito a protestar: um estado de direito não pode ficar despojado de ordem, muito menos dentro do próprio estado.

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