6 de janeiro de 2009

Sócrates na SIC


Da entrevista de José Sócrates, Primeiro-Ministro (PM), à SIC ontem à noite retenho alguns aspectos que me parecem ser relevantes destacar:


A começar o desperdício da oportunidade de se entrevistar um PM e dele extrair respostas e posições objectivas e comprometedoras. Os jornalistas que conduziram a entrevista abusaram das funções de questionar e dirigir o convidado, usando expressões e uma atitude arrogantes, desmanchando assim a expectativa da clarificação de posições do PM. Ricardo Costa atingiu o limite ao desafiar Sócrates em apostar sobre a fundamentação das suas (as de Ricardo Costa) opiniões e previsões. Ora, a um entrevistador não compete a análise e o comentário e Costa sabe-o tão bem como ninguém, tanto sabe que se julga acima dessa condição de ética profissional. Falhou a oportunidade de uma entrevista marcante num momento crucial.


Sobre o fim da Cooperação Estratégica o PM disse o óbvio, e que apenas os que teimam em desenvolver discussões estéreis e laterais não assumem: existe entre os órgãos de soberania uma Cooperação Institucional, e esta não está condicionada por divergências de opinião e/ou de acção. De outra forma não faria sentido formar governos em Portugal, bastaria a vontade presidencial para executar opções e planos. Quanto ao caso concreto e discordando em absoluto da teimosia do PS na manutenção das duas normas no Estatuto dos Açores, não me parece tão ingénua a forma como o Presidente da Republica conduziu o processo: se as dúvidas que o assombraram eram de natureza constitucional deveria ter sido essa a razão do veto. Aliás, como Sócrates ontem admitiu, caso a sua inconstitucionalidade se confirme as normas serão retiradas. Óbvio e fútil, para tanta conversa.


No que respeita à economia e às dificuldades que se avizinham com a previsão de uma recessão anunciada hoje pelo Banco de Portugal (BdP), pareceu-me que o PM estava bem preparado e com fundamentos coerentes e objectivos. Resta saber se a sua visão é correcta e nos conduzirá ao caminho que promete. E é nesta questão que nos devemos centrar: um debate sério e responsável sobre o que se considera necessário fazer para suprimir os danos da crise. Que prioridades? Que caminhos? Quais as áreas de acção para os próximos 3 anos? Mais que comentar as declarações do PM e criticá-las como uma réstia de oportunidade de intervenção nos telejornais, importa que os partidos da oposição digam – com inequívoco rigor – o que defendem para o País neste momento crucial! Parece-me oportuna a promoção de um acordo de regime económico relativamente aos investimentos públicos, à criação e à protecção de emprego, às medidas de apoio ao investimento privado e ao controlo orçamental e de défice.


Para José Sócrates importa relançar a afinidade de simpatia e de confiança com os portugueses. E nada melhor que avocar a responsabilidade de manter o Partido Socialista unido, ou seja capaz de garantir estabilidade e defender os interesses do país, através da inclusão de Manuel Alegre nas listas e no projecto de conquista de uma maioria absoluta. Concordo com Sócrates na ambição de uma maioria absoluta, aliás outra coisa não seria esperada, e sobretudo como factor de estabilidade; discordo de Sócrates quanto à forma: manter-se o proteccionismo a Manuel Alegre, para além do que já tem numa comunicação social pouco rigorosa, a custo de uma vitória eleitoral é um desastre com consequências nefastas para o PS. Não retiro a Alegre os trunfos intelectuais e poéticos, mas isso não lhe dá o direito de chantagear, de impor, de condicionar aqueles que foram eleitos e têm a responsabilidade de liderar.

Sem comentários:

Enviar um comentário